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A berberina: um suplemento alimentar perigoso?

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No seu relatório publicado a 25 de novembro, a Agência Nacional de Segurança Sanitária da Alimentação, do Ambiente e do Trabalho (Anses) lança um alerta sobre o consumo descontrolado de berberina, que em doses elevadas apresenta sérios riscos ao sistema nervoso, imunitário e também cardiovascular. Em França, este suplemento alimentar é livremente acessível sem limitação

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benefícios da berberina
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Une équipe éditoriale spécialisée en nutrition. Auteurs du livre Les aliments bénéfiques (Mango Editions) et du podcast Révolutions Alimentaires.

Uma ausência de concertação europeia sobre a berberina

Recentemente, a berberina tem tido um sucesso crescente na Europa. Este alcaloide, extraído de raízes e de cascas, é utilizado na medicina tradicional contra as infeções gastrointestinais e, sobretudo, devido aos seus efeitos reguladores da glicémia e do colesterol.

O enquadramento regulamentar deste suplemento alimentar permanece, no entanto, insuficiente, com uma legislação variável de país para país. Embora a berberina seja frequentemente utilizada nas medicinas tradicionais asiáticas, este alcaloide está apenas a iniciar a sua entrada no mercado europeu. Isso resulta num relativo desconhecimento deste produto alimentar e num vasto vazio regulamentar.

Proibida em alguns países (Suécia, Grécia…), a berberina é vendida de forma limitada noutros (Polónia, Bélgica…), ou mesmo em livre comercialização. É o caso da França, onde a berberina aparece em plantas para uso como suplemento alimentar – em particular a bérberis, sem limite de dose. Isso levanta questões, pois, como sublinha a Anses, nenhum estudo toxicológico foi ainda realizado sobre a berberina. 

Uma segurança de utilização da berberina deficiente

Na ausência de pesquisas aprofundadas sobre a berberina, não existe, à data, qualquer segurança de utilização. A Anses só pode basear as suas análises nos dados clínicos disponíveis, que contudo já apontam algumas observações importantes a ter em conta.

De forma aparentemente paradoxal, se a berberina supostamente trata perturbações gastrointestinais, também pode provocá-las em doses elevadas. A ausência de limites de dosagem em França faz precisamente parte dos pontos de atrito salientados pela Anses, que indica que a partir de 400 mg/dia, a berberina deixa de ser um simples complemento alimentar para se tornar um medicamento por si só. A essa dose, a berberina atua sobre o ritmo cardíaco e a pressão arterial, e teria múltiplos efeitos não controlados, como anti-inflamatórios, hipoglicemiantes, imunossupressores ou mesmo anticonvulsivantes.

Mesmo em doses limitadas, como na Bélgica com 10 mg/dia, a berberina poderia ter efeitos farmacológicos.  

Uma falta de informação preocupante sobre a berberina

Perante o défice de dados científicos existentes sobre a berberina, a Anses faz várias advertências sobre a sua utilização. Este complemento alimentar é, em particular, desaconselhado para as mulheres grávidas ou a amamentar, embora teoricamente a rotulagem dos produtos à base de berberina já devesse indicá-lo.

A Anses estende, aliás, as suas advertências às crianças e aos adolescentes, que apresentariam riscos mais elevados do que a população adulta, bem como a qualquer pessoa predisposta a perturbações de tipo hepático, diabético ou cardíaco.

Por outro lado, a berberina é suscetível de interagir com um tratamento medicamentoso em curso. A Anses recomenda, assim, que se mantenha a máxima precaução com este extrato de planta, ao mesmo tempo que apela à realização, o mais rapidamente possível, de estudos toxicológicos aprofundados.